Desde que comecei a praticar de forma contínua a astronomia amadora, tenho notado a evolução da iluminação não natural nos locais onde costumo frequentar. Sempre busco regiões rurais um pouco mais afastadas dos centros urbanos e preferencialmente que tenha alguma reserva ambiental nas redondezas.
De uns anos para cá tenho notado o surgimento e crescimento de vilarejos e o uso de holofotes em propriedades rurais. Nos dois casos, penso que são consequências da ausência do poder público. No primeiro caso o loteamento e grilagem de terras irregulares e no segundo, o problema secular da insegurança no campo.
É claro que o aumento da poluição luminosa impacta negativamente a prática da astronomia, mas há mais do que isso que precisamos nos preocupar:
- Algumas regiões promovem o turismo noturno, o astro-turismo como forma de fonte de renda é realidade em algumas regiões.
- Existem estudos indicando que o aumento da iluminação noturna pode causar impactos negativos na nossa saúde. A American Medical Association (AMA) tem uma resolução que trata do assunto "pervasive use of nighttime lighting […] creates potentially harmful health effects and/or hazardous situations with varying degrees of harm”
- Há também impacto no ecossistema, várias espécies de animais que possuem hábitos noturnos podem ter seus sentidos e instintos alterados com o excesso de iluminação.
O céu deve ser um patrimônio sócio-cultural, todos devem ter o direito a comtemplar as belezas do firmamento. Com a evolução da poluição luminosa, isso ficará cada vez mais difícil e caro. Infelizmente talvez a maior parte das pessoas não saberão como é m céu Bortle 1, como são os braços da nossa galáxia e a quantidade de objetos que podemos observar no céu noturno.
Precisamos pensar em formas de reduzir e usar de forma mais eficiente a iluminação artificial noturna:
- Atualizar e dar manutenção nos postes de iluminação pública para que sejam mais eficientes e que direcionem melhor a luz.
- Conscientizar e fiscalizar o uso da iluminação durante a noite de grandes edifícios comerciais.
- Promover o uso de ciclovias e transportes públicos. Menos carros nas ruas, implica em menos luz.
- Fiscalizar o loteamento irregular.
- Aumentar e fortalecer o policiamento rural e então conscientizar o desuso de holofotes nas fazendas.
- Promover e fortalecer o astro-turismo.
- Promover o uso de asfalto brilhante (glowing asphalt) em parques e ciclovias.
- Tratar o céu como um patrimônio sócio-cultural, com políticas públicas que ajudem a conserva-lo principalmente com trabalhos educativos e de conscientização.
Existe um processo para formalização de uma norma ABNT (ABNT NBR 5101), que ajudará a reduzir os impactos negativos provocados pela iluminação mal projetada.
O combate ao aumento da poluição luminosa também passa pelo combate ao desmatamento e ocupação ilegal do bioma Cerrado, que há anos vem tendo sua área reduzida.
Combater a poluição luminosa também trará eficiência energética e de custos.
Diante disso, resolvi iniciar um trabalho para acompanhar a evolução local e comparar a qualidade do céu de vários sites do nosso Cerrado. Espero poder acompanhar ano a ano a poluição luminosa em alguns locais e trarei mais dados e novidades assim que puder.
Se quiser acessar o mapa com as minhas medições, bem como baixar a planilha de dados, acesse Cerrado Sky Survey. Estou fazendo medições no Zênite (para comparar diferentes sites) e nas direções Norte, Sul, Leste e Oeste com inclinação de 45 graus (para acompanhar o avanço da PL localmente).
@astronomiaNoCerrado
